26 dezembro 2008

AS ÚLTIMAS PRAIAS DO VELHO CASCAES

Guardinhas passam rente ao meu espaço. Guardas municipais de bicicleta. Bem-vindos eles aqui com seus capacetes estranhos e óculos escuros. Palmeiras à direita e Itaguaçú à esquerda. Estou entre as duas. Olhando o mar, o céu e as montanhas lá, aproximando o horizonte.

No mar calmo, crianças brincam entre as pedras e delas pulam na água. Banham-se entre as bruxas de Itaguaçú. Coisa que soaria até poético, não estivesse este ano as duas últimas praias do Continente entrando no rol das águas impróprias. Foi o que traduzi do relatório da Fatma, indicadas com carinhas quadradas e tristes.

São nossas praias poluídas por nós mesmos. Por nossos próprios excrementos. Uma a uma, as praias que aqui estão desde antes dos açorianos chegarem. Desde antes dos carijós ou mesmo dos casqueiros. Uma a uma elas estão perdendo sua vida, seus peixes, suas lendas. No final do ano em que saudamos o centenário do velho Cascaes, matamos as suas águas.

Continuam lindas ainda estas nossas praias. Com suas pedras, suas gaivotas, seus pés de abricós e suas estranhas frutinhas com gosto de lembranças de pães, avós e sementinhas de gomos de madeira. Continuam lindas ainda estas nossas praias.

dez’08