03 novembro 2009

OUTROS FILHOTES

A Praia do Itaguaçú está tomada por outros filhotes hoje. Filhotes de humanos. Sabem, né? É um primata muito abundande por aqui.

As areias, as águas, as pedras. Tudo cheio desses macaquinhos brincalhões e espalhafatosos. De todos os tipos, a gurizada. Meninos, meninas. Loiros, indígenas, morenos, negros. Em todos os matizes. Inclusive há dois na pedra do ninho. Mergulham de uma pedra mais baixa e saem nadando desengonçados até a pedra do namoro. Esbaforidos se deitam sobre a pedra.

As gaivotas, com seu voar elegante, mantém uma distância segura. A pedra do ninho não.

Chegam agora até ela adultos. Estes vão até o seu topo, onde as gaivotas ficaram durante meses a fio. Vão os homens. Sobem com seus gestos simiescos. Como, aliás, somos. Diga-se de passagem.

Já os macaquinhos pulam na água. Felizes, brincam de se empurrar. Boiam. Não fazem nada. Pulam de contentes. Gritam e grunhem os macaquinhos, com sua comunicação vocal. Uma guria bem pequena e dourada, nos cachinhos, na pele, no biquíni amarelo, banha seus cabelos na beira do mar. Enfia os crespos na água, que mal encobre suas canelas, e os arruma para trás. Molha-se na cachoeira que escorre pelas costas.

Já na pedra, chega um terceiro macacão. O primeiro mergulha bem. O segundo, recém tomando a configuração adulta, se joga como pode. O terceiro nem se arrisca a subir na pedra no ninho.

Passado algum tempo de paz, novamente a pedra se vê obrigada a sustentar nas costas quase uma dezena de macaquinhos machos. Alguns olham desafiadores para o mar lá embaixo. Outros apenas tomam banho de sol.

Já na Praia das Palmeiras, mais adiante, também infestada por estes filhotes, há macaquinhos por todas as pedras mais próximas. Nas mais distantes as gaivotas ainda reinam e não parecem apresentar disposição para abandonar o posto.

Entre o Cambirela e a Ponta de Baixo se empilham quatro serras ao longe. Entre a Ponta de Baixo e a Pedra Branca, são outras cinco. Longe, mostram-se azuladas pelo ar distante. E lembram estradas inóspitas e vistas soberbas. Lá de onde se vê aqui o mar. O mar onde eu, calmamente acomodado, tomando uma cerveja, vejo as serras ao longe e, mais próximos, os guris se aventurando nas pedras.

Nadam os macaquinhos – e são sete! – entre a ponta da pedra grande e a pedra da quilha. Lá, quase mortos, se amontoam sobre uma pedra pequena que a maré baixa deixa à mostra. O primeiro que chega sobe na pedra e vibra, levantando os braços aos céus, em sinal de vitória ao conquistar aquele pequeno território que se torna enorme para o macaquinho-macho que pensa conquistar todas as serras à volta. Um território pequeno, já que são sete guris sobre a pedra.

Mas nada adianta conquistar novos mundos, se não narrarmos a odisseia. Assim sendo, o nosso conquistador, junto com dois outros companheiros jogam-se de novo ao mar, iniciando a jornada de volta.

Os três nadam a muito custo para o continente. No meio do caminho param exaustos. Tomam fôlego e retomam bravamente o caminho. Quando os três já estão quase chegando, os demais se lançam também ao mar.

Dezenas de outros macaquinhos-machos aguardam os nossos heróis, gritando e pulando. Tudo se acalma quando o segundo grupo chega. Cansados, aguardam na praia o dia acabar, enquanto relatam os feitos náuticos aos demais.