25 março 2009

NOVAS AVENTURAS NA BARCA

Conheces a Tânia Piacentini? Pois a Tânia, a grande timoneira ilhoa sempre nos proporciona gratas surpresas. Outro dia, no início de uma noite ainda calma de sexta feira, graças aos movimentos da Barca dos Livros, houve um encontro marcante para mim.

Estava eu no deck da Lagoa, esperando o início da conversa com um grande escritor, sentado num dos bancos, apreciando a linda vista e os barcos atracados. Vejo então na minha frente alguém que não via há quase trinta anos. Um grande amigo que, aliás, é o grande escritor citado, Tabajara Ruas.

E enquanto me levantava sorrindo e me dirigia até ele, que também apreciava o deck, o Taba passou a olhar aquele homem de meia idade caminhando em sua direção. Atônito apertou minha mão estendida com uma cara de de-onde-que-eu-conheço-este-sujeito.

A medida que citava nomes conhecidos, comecei a remoçar e me situar numa distante Cidade Baixa. No tempo e no espaço. Atrás da barba e do cabelo mais ralo e desgrenhado. Um efusivo abraço foi o marco do reconhecimento da figura aquela.

Enquanto tudo isto acontecia, ali ao lado dos barcos, em frente à Barca, eu comecei a imaginar a insólita viagem do Taba nesta vida. Como tudo leva às águas, não poderia ser diferente se eu visse o Tabajara embarcando num caíque de chibeiro, porém não atravessando o Uruguai, mas ganhando força de sua correnteza para seguir viagem. Descer o Rio da Prata e chegar ao Atlântico. Tomar a Corrente das Malvinas, como os pingüins e baleias fazem, cruzar a costa brasileira, a Ilha de Santa Catarina, ganhar o mar profundo, Cabo Verde, a costa africana, os Açores, a Ibéria, cruzar o Canal da Mancha, talvez, para terminar a viagem no porto de Copenhague, possivelmente tomando uma cerveja dinamarquesa olhando o movimento dos barcos.

Nada muito complicado para um gaúcho fronteiriço. Nada precisando além de dois braços fortes para os remos. Ou talvez uma vela quadrada num mastro singelo.

Porém nosso herói faria um trajeto mais sinuoso. Molhando seus pés no Pacífico ou quem sabe cruzando por alguma ilha caribenha.

Quando ele voltou ao sul do mundo houve um encontro entre os que foram e os que não foram depois de tanta ditadura. Respirávamos naquela época palavras como Anistia, Diretas e os verdes sonhos da esperança lá naquele sobrado distante da Cidade Baixa.

Mas isto tudo foi só um minuto sobre o deck da Lagoa. Depois disto nos dirigimos todos à Barca, onde fomos brindados com a hospitalidade dos anfitriões e nem vimos o tempo escorrer durante uma conversa animada que o enfeitiçou, fazendo ele ir e retroceder. Parar e saltar.

Presente da Tânia. Dela e de suas “camaradas”.