08 junho 2010

TRINTA-RÉIS

Hoje o dia é dos trinta-réis. Por que não sei. Bate um vento forte de sudeste e, há pouco, o sol cedeu lugar para nuvens densas.

Os trinta-réis são um tanto esquecidos por nós. Talvez por seu nome prosaico – dizem que onomatopéico, como o quero-quero e o bem-te-vi. Talvez por ser algo como o primo pobre das aves marinhas daqui. Os biguás e suas esquadrilhas, as barulhentas e desorganizadas gaivotas e mesmo as distantes fragatas, que parecem nunca descer dos céus, são bem mais populares que estas pequenas e acrobáticas aves.

Entretanto, hoje, as gaivotas estão ao longe e os esporádicos biguás passam, em sua formação, também distantes. As fragatas nem se vê. Os trinta-réis, portanto, dominam os céus. Voam atentos com o bico formando quase que um ângulo reto com o corpo, vasculhando a superfície do mar. Chegam a parar contra o vento procurando peixinhos. Num instante, estolam o vôo e mergulham certeiros, saindo da água rapidamente com sua presa no bico.

Dezenas destes pássaros executam manobras semelhantes, exceto um casal que permanece sobre uma pedra. Esporadicamente um alça vôo para se alimentar, mas sempre um deles permanece. Devem estar nidificando. De onde estou não é possível ver se há um ninho mesmo ali, mas a atitude do casal é bem típica.

Ao longe, o Tabuleiro reina imponente banhado ainda de sol. Aqui o casal de trinta-réis permanece na pedra, olhando para o vento que escabela na calçada as pessoas e os jerivás.

04 junho 2010

DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

“A terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Isto sabemos: todos as coisas estão ligadas. Há uma ligação em tudo. O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo. “ Estas linhas foram escritas em 1854. E não foi escrito por nenhum apologista da sustentabilidade, mas por um índio. Este texto foi extraído da carta que o cacique Seatle mandou para o presidente dos Estados Unidos comentando o fato do governo daquele país querer comprar as terras de sua tribo. As terras que restaram.

Como estamos no passado, avançaremos mais de um século, até 1972, quando, na Conferência de Estocolmo, a ONU estipulou que o cinco de junho passaria a ser o Dia Mundial do Meio Ambiente. Quase quarenta anos depois, estamos aqui em São José sem ter o que comemorar. Tínhamos todo o nosso município coberto pela Mata Atlântica. Hoje ainda temos 26%. É pouco? Se formos comparar com outros municípios, ainda é bastante. Por um lado, temos Santo Amaro da Imperatriz com 68%, por outro, Capivari de Baixo atingiu um ponto singular, 0%. No ritmo que estamos, breve São José não terá um único garapuvu para contar a história.
Estamos aqui sem ter o que comemorar. Nossas florestas estão se degradando rapidamente na mão do homem que não pensa em seus filhos, que apenas pensa em si mesmo. Sim, porque estamos tomando um “empréstimo” do futuro. De nossos filhos, de nossos netos. O que destruímos agora fará falta amanhã. Nossos rios não passam de esgoto a céu aberto. Alguém, parado no ar condicionado de seu carro, esperando o sinaleiro abrir ao lado do Rio Araújo, abriu a janela e olhou o rio? Sentiu o cheiro? Há quantos anos a Terra abriga a vida? Milhões de anos. Há vinte anos, o Rio Araújo era vivo. Os mais antigos pescavam bagres, carás, lambaris em suas águas. Abra a janela do seu carro ao lado do Rio Araújo e olhe para ele.
São José é um município que fica na beira do mar. Quantos de nós se lembram deste simples fato? Se olharmos para o monumento aos açorianos na praça do centro da cidade, vemos que eles chegaram do mar e ali levantaram a freguesia de São José da Terra Firme. E na freguesia estamos hoje de costas para o mar. Ele só nos serve para que joguemos nossos dejetos, como se fosse um grande “sumidouro”.
Cinco de junho é o Dia Mundial do Meio Ambiente e não temos aqui nada para comemorar. Conclamo todos a fazer algo, um pequeno gesto, um movimento singelo na recuperação de nossos recursos naturais. Seja não jogando o esgoto de sua casa na rede pluvial, seja juntando um pedaço de plástico do chão, seja separando o lixo, seja reciclando o óleo da cozinha. Se todos nós fizermos algo, por menor que seja, teremos duzentas mil ações em prol do meio ambiente todos os dias, todas as horas e, no ano que vem, teremos sim o que comemorar.