26 janeiro 2009

A BARCA

Quem não foi perdeu o encontro com o Sérgio da Costa Ramos e o Flávio José Cardozo. Foram duas horas de um belo bate papo com estes nossos dois grandes cronistas no último dia 23 na Barca dos Livros no Centrinho da Lagoa da Conceição. E, como falou o Sérgio, que ela navegue.

Que seja esta nossa Barca, uma pequena biblioteca de Borges, onde cada página que ali se encontra seja uma dobra de um labirinto infinito de palavras e idéias. Como tem que ser, pois ela contém o todo dentro de sua finitude. Uma biblioteca é uma casa com alma.

E, como um Seival às avessas, que não ganhe rodas para singrar os campos. E que não tenha um Garibaldi no timão, mas uma Anita que ice as suas velas, solte as suas amarras e transforme os sonhos em quilhas.

E assim, finalmente, que a Barca ganhe a Lagoa e navegue rumo a um mar de leituras futuras para todos!

Parabéns à Barca!


26/01/09

20 janeiro 2009

O VERÃO EM FLORIPA FAZ PENSAR

Todo o ano, no verão, coisas se repetem. Pensamento sobre os turistas que enchem nossas praias e demais espaços públicos. E daí sobre os migrantes que povoam nossa cidade.

Sobre os turistas, nada melhor que ter em mente que, além de encher nossas praias com seus sotaques e línguas e jeitos e hábitos, enchem também os cofrinhos dos bares, restaurantes, hoteis, e lojas. Eles fazem girar mais rápido a roda da economia. Todo os verões.

Sobre os migrantes, ora, o Brasil é um país de migrantes e imigrantes. Assim como todo o continente americano. Se tu és nativo, teu pai ou teu avô ou mesmo o teu bisavô não o era. Temos que ter a atitude de integrar os migrantes à nossa comunidade e saber aproveitar o que eles estão trazendo de bom em sua bagagem. Não nas malas, mas em seu jeito de ser, em sua cultura, em seus modos. E por que eles não aproveitarão o que há de bom em nossa cultura? Isto faz a evolução dos costumes e da própria humanidade.

Assim poderemos ver o argentino aquele que mora ali jogando dominó, ou o paulista comprando uma rosca, ou o gaucho levando o seu curió para passear, ou o uruguaio no boi de mamão. Ganhamos nós. Ganhamos todos.

17 janeiro 2009

A CIDADE & COMPARAÇÃO (a primeira crônica, ainda em Porto Alegre)

O dia era de sol. Até que estava agradável. Estava tudo igual. A mesma floresta de concreto, fria. Ao fundo o Guaíba parecia um mar de lama. O ar com o mesmo cheiro desagradável. Os automóveis, engarrafados ao longo de toda a rua, pareciam uma massa de ferragens coloridas.

Acendi um cigarro e observei as pessoas. Eu disse pessoas? Pareciam mais autômatos. Todos programados. Um tem que ir para o trabalho. Outro para o cursinho. Todos andando depressa. Todos atrasados. Quem estava de carro gostaria de estar a pé, pois o trânsito tinha parado.


Não havia mais árvores. A única coisa verde era um fuquinha parado na esquina. A prometida área verde que ia sair na outra quadra virou estacionamento. Antes mesmo de crescer o primeiro tufo de musgo. Centenas de passarinhos não voam mais ali. Não havia sequer crianças na rua. Talvez porque suas mães tivessem medo.



Passou uma ambulância. Sua sirene destacou-se do já insuportável barulho das ruas. Talvez estivesse levando mais uma vítima do progresso. Passou cortando entre carros e buracos, de onde alguns trabalhadores extraiam seu pão sem saber que poderiam ser a causa da neurose de muitos.

Onde havia o verde da grama,
há o negrume do asfalto sujo de papel.
Onde havia árvores,
há construções enormes.
Onde corriam livres os animais,
correm os automóveis.
Onde os tatus escavavam suas tocas.
máquinas amarelas barulhentas furam buracos
Onde havia um céu azul pontilhado de pássaros,
há um céu cinzento empipocado de aviões.
Onde as capivaras brincavam,
há um cais imundo cheio de navios.
Onde os peixes nadavam,
há um rio marrom em que bóia lixo.
Onde havia vida,
há máquinas.

1973

15 janeiro 2009

RICARDO MORREU

Ricardo Montalbán. E perguntam: - Quem? Ricardo Montalbán, o Sr. Roarke da Ilha da Fantasia. É, aquele carinha que ficava junto com o anão Tattoo e era meio que Deus por aquelas ilhas. Um Deus bon-vivant, é verdade. Mas aí o Tattoo seria um Jesus Cristo baixinho e os caminhos a serem trilhados nesta crônica seriam outros. Mesmo porque Deus age por caminhos misteriosos, como dizem.

O Ricardo Montalbán foi um grande ator dos anos 50. Um Galã da Metro, o que não é pouco para as moçoilas dos tempos pós-guerra. E um galã com nome de Ricardo, que ainda por cima soa familiar por estas paragens. Hoje se diria latino ou hispano-americano, o grande hipócrito-eufemismo, para usar um eufemismo hipócrita. Um galã importado do México. Mas as moças babavam pelo Ricardo. E os rapazes babavam pelas moças. Acho que era assim naquele tempo. Depois é que tudo ficou mais confuso.

Mas Ricardo Montalbán morreu. Fez dezenas de filmes e mais outros tantos para
a tevê durante toda a sua vida. Entre tantos trabalhos, do “Verdugo de Sevilha” até “Jornada nas Estrelas”, ficou na memória a Ilha da Fantasia. Que, bem ou mal, me lembra outra ilha. E quem me lembraria Ricardo Montalbán o galã? O deus de uma ilha só?