31 dezembro 2009

MONTEIRO LOBATO

Monteiro Lobato ficaria feliz com a descoberta de petróleo no pré-sal. Monteiro Lobato, o criador do Sítio do Pica Pau Amarelo, que encantou a infância brasileira desde a geração dos meus pais até a de hoje. Monteiro Lobato da campanha “O Petróleo é Nosso”, que lutou pela estatização do petróleo no país.

Entretanto, Monteiro Lobato viveu na primeira metade do século passado. Esta foi uma grande época para o Brasil. Tanto para as artes , quanto para a consolidação da República. E Monteiro Lobato foi um grande personagem desta época, como Mário de Andrade e Tarsila do Amaral, só para ficar nas artes.

Já as reservas do pré-sal foram talvez lagos repletos de vida que, soterrados, resultaram com o passar dos milênios, num chorume oleoso e fedorento. Reservas que vieram da química orgânica do nosso ora famoso carbono. Química que, além da complexidade da vida, cria hidrocarbonetos que oxidam facilmente, gerando energia sob a forma de calor. Ou seja, queimam bem.

Todo este ufanismo do governo do companheiro Lula, visando alavancar a candidatura da camarada Dilma, é baseado na descoberta, à uma profundidade imensamente cara, de reservas que parecem ser significativas de petróleo. Nada mais que carbono que terminará na atmosfera, depois de comido, digerido e excretado por automóveis, fábricas e usinas.

Ou seja, o Governo Federal e seu braço armado capitalista, a Petrobras, estão querendo jogar todos estes incontáveis átomos do pequeno carbono no ar, o que aumenta o isolamento térmico da atmosfera, subindo a temperatura da superfície do planeta. Isto tudo no país do sol abundante, dos rios caudalosos, dos ventos fustigantes, das florestas imensas e do povo mais gentil.

Seremos nós brasileiros incapazes de gerar toda a nossa energia a partir de todas estas fontes que a natureza nos colocou a disposição? Fontes estas não poluentes, renováveis e de baixo impacto ambiental?
Vamos buscar petróleo nas entranhas da Terra, enquanto em todo o mundo se busca alternativas viáveis não poluentes?

Monteiro Lobato talvez estivesse hoje pensando justamente no fim da primeira década de um século novo, onde ele, já homem feito de 28 anos, via na estatização da imensa fonte de energia, que se chamava ouro negro, a abertura de um belo caminho para a industrialização do Brasil. Assim, ele anteviu a Petrobras, iniciando todo este processo. Mas Monteiro Lobato estava em 1910 e não, como nós, em 2010.

O petróleo do pré-sal faria sucesso ouvindo-se Vila Lobos numa vitrola de 78 rotações. Grandes homens viveram no século passado. Sugiro até que a festinha de final de ano da nossa bem amada Petrobras seja ao som de Pixinguinha, Noel e Lupicínio e, por favor, desliguem os celulares.


Fim de 2009

30 dezembro 2009

DEUSES E DEUSES

Como tudo é cíclico na natureza... Os chineses sabem disto há mais de cinco mil anos. Basta ler o I-Ching. A ciência também sabe disto. Tudo no Universo é de natureza oscilatória. Tudo é cíclico.

Os pagãos tinham uma festa para o solstício de inverno – para eles no hemisfério norte, bem verdade – os pagãos adoravam fazer uma festa. Os cristãos, na sua ânsia de tomar o lugar do paganismo no coração das pessoas, em vez de combater a festa, incorporaram-na a seus ritos. E colocaram o nascimento do seu deus único no evento. Assim surge o natal como aniversário do deus Javé em carne.
Uma guerra santa intestina que começou em Roma e teve seus dias de glória na Santa Inquisição. Momento em que os cristãos se vingaram do Coliseu e outras atrocidades romanas.

Porém, como estas coisas de deuses, vão por caminhos diversos, o próprio paganismo, com seus deuses múltiplos, se imiscuiu na igreja católica mesmo. E surgiram santos, deuses menores, que passaram a ter seus próprios adoradores.

O natal hoje é uma festa completamente pagã. A mídia está recheada de imagens do deus Papai Noel. Um deus bonachão que ostenta as cores da coca cola. O espírito de natal, dizem. E este espírito não tem nada do deus menino ou coisa que o valha. É um deus velhinho. Um deus vovô. Assim a festa tomou uma conotação totalmente pagã. Papai Noel, árvore, guirlandas, presentes e na hora do menino deus nequinhas. No máximo o presépio, onde o deus menino aparecem o deus pai do menino, a deusa mãe do menino, o deus burro, a deusa vaca, os três deuses bacanas do oriente, havendo até entre eles um deus negro para não gerar bate-boca.

Parece que o ciclo deu uma volta e o paganismo venceu. O deus cruel, o deus da culpa, o pai do deus menino não está mais dominando a festa, que hoje tem como mestre de cerimônias o deus bonachão que até lembra um Baco desgastado pelas orgias. Tem até esta história do bom velhinho gostar de sentar as criancinhas no colo, mas aí já é outra história. O que vem ao caso aqui é que o poder está todo com o generoso deus Noel, distribuindo presentes e carnês em rigorosamente iguais proporções, movendo a roda da fortuna.

Já o deus do deserto grita do alto dos céus que ele é o deus único. Mas não é todo o mundo que acredita. E os outros deuses acham-no muito prepotente.

29 dezembro 2009

PALITINHOS DE AÇÚCAR

Tudo depende da boa e velha glicose. O C6H12O6. Carbono, hidrogênio e oxigênio montados de tal maneira que formam palitinhos que se juntam em estruturas maiores, desde a pequena e popular sacarose, vulgo açúcar, de apenas duas moléculas, até o amido e a celulose. As plantas possuem uma incrível propriedade de pegar os elementos da água e do ar e, usando sabiamente a energia do sol, nas fabriquetas celulares chamadas cloroplastos, guardam-na com muita eficiência nestas pequenas baterias estáveis.

A partir de uma pequena energia de ativação e do oxigênio do ar, toda esta energia acumulada é liberada, seja como fogo, seja como alimento, o que não deixa de ser a mesma coisa. E assim a energia deste palito é liberada, resultando também nas moléculas constituintes do processo, ou seja, a água e o dióxido de carbono, fechando o ciclo. Coisa que nós, animais, somos exímios em fazer.

Mas nada disto é novo. Aliás, escutei isto tudo proferido pela boca de um alemão meio maluco lá de Porto Alegre, conhecido como Lutz. O engenheiro agrônomo e ecologista de primeira hora José Antônio Lutzenberger.

Na Terra temos muito carbono, o suficiente para transformar o planeta numa imensa estufa, talvez como tenha ocorrido com Venus. Mas este carbono está em grande parte acumulada sob a forma dos palitinhos aqueles, guardado habilmente pelos vegetais. Outra parte deste carbono foi também transformado pelas plantas, acumulado e posteriormente soterrado, vindo a formar hidrocarbonetos devidamente retirados de circulação sob forma de petróleo, gás natural, carvão, xisto. Por outro lado, esta mesma estufa foi a responsável pela manutenção das temperaturas da superfície terrestre praticamente estáveis. Afinal uma variação de -50°C a 50°C é praticamente nada frente as variações de milhões de graus presentes no Universo. E esta estabilidade permitiu o desenvolvimento da vida como a conhecemos.

Se todo este carbono for liberado para a atmosfera, a estufa será ligada. Não significa o final do planeta, nem da vida na sua superfície, mas certamente o fim de uma era geológica e o início de outra, com outras paisagens, outro climas, outros seres vivos. Coisa que talvez só imaginemos em filmes de ficção científica.
Entretanto, o homem está dando aquela energia de ativação necessária para a queima de todos estes palitinhos. Algo como riscar um fósforo num paiol de dinamite, como num desenho animado. Só que em vez de ficar com a cara queimada e saindo fumaça da cauda, o dano será muito maior.

Porém, desde os tempos que dominamos o fogo, sabemos que esta queima libera energia. Interessados nesta energia disponível, estamos queimando mais e mais palitos, buscando mais energia. Recordando-se que a energia pela unidade de tempo é potência e que potência é sinônimo de poder, o homem busca mais poder, dispondo de mais e mais energia.

Entretanto, esta queima libera, como dito antes, o dióxido de carbono e a água. E estes voltam ao ciclo da natureza. E o carbono reforçará, na atmosfera, o chamado efeito estufa, reduzindo as perdas de calor da superfície da Terra para o espaço.

Havendo a indagação de o que fazer para evitarmos este dramático final de uma era, podemos responder que basta manter o carbono guardado naquelas estruturas estáveis que os vegetais aprenderam a fazer.
Se ele não virar gás, se ele não for queimado, não haverá aumento do dióxido de carbono livre na atmosfera e, portanto, a estufa se manterá como está.

A Teoria de Gaia, formulada entre outros pelo próprio Lutz, é extremamente interessante neste sentido. A Terra, como um todo, possui o dom da vida e busca formas de se autorregular.

Assim como Saturno ostenta seus anéis, Júpter suas tempestades, a Terra ostenta a vida. E isto se deve a esta química esquisita do carbono e a ação de moléculas orgânicas mais complexas, como a clorofila, a hemoglobina e o próprio ácido desoxirribonucleico, vulgo ADN ou DNA para os seguidores dos anglicanismos.

Entretanto, o Lutz dizia que este super-organismo é inconsciente. Será? Nós somos, como bem percebido por ele, apenas um tecido deste ser vivo. Um tecido canceroso. Mas isto significa que não está havendo um controle ecológico sobre as ações deste tecido e ele está desequilibrando o planeta. Transformamos a superfície como mega-formigueiros, com grande concentração de energia e, portanto de calor, com impermeabilização do solo e golfadas gigantescas de dióxido de carbono e outros gases no ar que nos cerca. Esta energia toda vem da queima dos hidrocarbonetos. Não estamos apenas tocando o ciclo do carbono da natureza, mas estamos jogando na atmosfera carbono que estavam guardados nas entranhas do planeta há milhões de anos, talvez os restos da sopa inicial da vida.

Precisamos ter em mente que não estamos na Terra, como se ela fosse uma nave e nós os passageiros, mas somos a Terra e a inviabilização dela também nos inviabilizará.

Dezembro de Copenhague//09

DE ÔNIBUS

Faz um dia lindo de sol lá fora, mas estou no meu quarto, ouvindo rádio e escrevendo. Aqui, por estas plagas, sem carro é brabo. Depender de transporte coletivo é uma coisa difícil, que grande parte do nosso povo aprende a fazer. Não poderia haver um Floresta via Coqueiros? Aí eu poderia ir para o Itaguaçú dependendo de apenas um ônibus, para ver as bruxas se banhar na baía sul.

De carro não demora mais que cinco minutos para ir, porém de ônibus, tem que se esperar o primeiro passar, ir até o Centro, esperar o segundo e voltar para o Continente. Ou descer em Capoeiras, seguir a pé até o Abraão e esperar o segundo. E olha que os ônibus no final de semana, com sorte, passam a cada hora.

Dia destes falaram que haveria greve na semana do vestibular da UFSC. É a única categoria de fora do serviço público que faz greve. Parece até que o sindicato dos trabalhadores, o patronal e a prefeitura de Floripa estão mancomunados. Todo ano fazem greve que resulta invariavelmente em aumento de passagem, além dos inúmeros dias de prejuízo direto para a população. Além de, ultimamente, andarem reduzindo os horários das linhas. E esta é mais cara passagem de uma capital do Brasil. Bem que o Ministério Público poderia investigar esta relação, afinal, parece meio incestuosa, não?

Primeiros dias de 12//09