08 junho 2010

TRINTA-RÉIS

Hoje o dia é dos trinta-réis. Por que não sei. Bate um vento forte de sudeste e, há pouco, o sol cedeu lugar para nuvens densas.

Os trinta-réis são um tanto esquecidos por nós. Talvez por seu nome prosaico – dizem que onomatopéico, como o quero-quero e o bem-te-vi. Talvez por ser algo como o primo pobre das aves marinhas daqui. Os biguás e suas esquadrilhas, as barulhentas e desorganizadas gaivotas e mesmo as distantes fragatas, que parecem nunca descer dos céus, são bem mais populares que estas pequenas e acrobáticas aves.

Entretanto, hoje, as gaivotas estão ao longe e os esporádicos biguás passam, em sua formação, também distantes. As fragatas nem se vê. Os trinta-réis, portanto, dominam os céus. Voam atentos com o bico formando quase que um ângulo reto com o corpo, vasculhando a superfície do mar. Chegam a parar contra o vento procurando peixinhos. Num instante, estolam o vôo e mergulham certeiros, saindo da água rapidamente com sua presa no bico.

Dezenas destes pássaros executam manobras semelhantes, exceto um casal que permanece sobre uma pedra. Esporadicamente um alça vôo para se alimentar, mas sempre um deles permanece. Devem estar nidificando. De onde estou não é possível ver se há um ninho mesmo ali, mas a atitude do casal é bem típica.

Ao longe, o Tabuleiro reina imponente banhado ainda de sol. Aqui o casal de trinta-réis permanece na pedra, olhando para o vento que escabela na calçada as pessoas e os jerivás.

Um comentário:

Dídimo Gusmão disse...

Parabéns pelo belo texto.
Gostei muito!
Adoro ler crônicas, contos, poesias e etc. Além de escrever é claro.
Abraço.Voltarei sempre a ler teus textos.


http://oliveirabicudo.blogspot.com/