02 julho 2009

A BIBLIOTECA E O OLHO

Olhamos, nós que vivemos todo este processo, com um certo espanto o avanço estupendo da dita tecnologia da informação.

Algo que, em poucos decênios, passou do gênio criativo de escritores de ficção científica para a realidade não apenas palpável, como indispensável para este nosso mundo.

Vemos surgir, neste ambiente volátil que, como uma imagem, chamamos de virtual, corporações poderosas que entram em nossos lares por meio deste espelho sem aço que nada reflete, mas que suga e dá.

Tribos aborígenes não se deixavam fotografar, pois acreditavam que a foto lhes roubava a alma.

Não chegaremos a tanto? Mas se lembrarmos da obra sexagenária de George Orwell, que se passa no distante futuro de 1984, veremos aqui, um quarto de século após aquele futuro fictício, algo como aquele Grande Irmão. Não o pastiche televisivo, mas o olho que tudo vê, que tudo sabe e que está presente em todos os lugares.

Por outro lado, se recuarmos uns dois milênios, nos forçaremos a comparar com o antigo espírito humano, querendo compilar todo o conhecimento na Biblioteca de Alexandria. Porém a atual não é inflamável, pelo menos para a chama que César usou naquela.

Assim, este nosso olhar estupefato, dado a traçar paralelos, se depara com outra inventividade do homem que também o persegue desde antes da contagem do tempo: a criação de deus. Porém não um deus que compartilha conosco a imagem e semelhança bíblica, mas um deus incorpóreo. Como é conveniente para um deus, a bem da verdade. Um deus que permite se mostrar por meio desta janela-espelho da tela.

Nem mais nos preocupamos com seu aspecto distante do mundo concreto. Já nos ajustamos. Como também nos adaptamos ao modo mercantil de ser deste deus que, no afã de nos saber intimamente, troca pedaços desconexos de conhecimento de sua infinita biblioteca Alexandrina por nacos de nossa alma. Como não somos aborígenes nem nada, não chegamos a nos importar com isto, desde que tenhamos como nos relacionar e de pagar as contas sem levantar a bunda da cadeira.

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