16 agosto 2009

AS GAIVOTAS SEGUEM

Seguem elas nas pedras do Itaguaçú. Uma no ninho e outra se banhando. Na pedra do banho aquela. Estão estabelecidas, fizeram um lar nas pedras do Itaguaçú. Nas bruxas do Itaguaçú. Tem a pedra do namoro. A pedra do banho. A pedra do ninho. As gaivotas, vagabundas pachorrentas, têm um lar nas pedras.

A do choco toma sol nas costas. Virada para sudeste. Na última visita que fiz, ela estava virada para o pôr-do-sol. O horário? O vento? O clima a move. Ou apenas a vontade de apreciar outras paisagens, das muitas que elas têm dali. Daquela pedra.

Alimentação farta. Os peixes da praia calma e limpa. Os restos dos humanos, subproduto dos restaurantes. Qual gaivota desperdiçaria um espinhaço de tainha ou centenas de cabeças de camarão? Não saberia dizer se apreciam os ratos. As garças adoram. Tudo isto e com esta vista. Realmente ótimo para se construir um lar.

As gaivotas sabem aproveitar mais o lugar onde moram que os humanos. Estranho isto, não?

Mas agora a gaivota do banho pousa na pedra do ninho. Dá bicadas embaixo das asas, nas costas. Se ajeita após o banho. Para uma certa indiferença da outra. Coisa de ave, decerto.

Até resolver dar uma levantada. Aí as gaivotas se revezam no ninho. Trocam a guarda do choco. A que se levanta ajeita as penas mas permanece no ninho. Ambas permanecem, mas trocam os papéis. A que se banhava foi para o choco e a outra se levanta, ajeita as penas e voa para outra pedra. Lá segue a se coçar. Afinal, deve dar uma aflição ficar horas literalmente sobre ovos.

Com a barriga sobre os ovos. Na verdade, entre as gaivotas a gestação é mais compartilhada que entre nós, vivíparos. Aqui só a fêmea carrega a cria até o nascimento. Entre as gaivotas, o macho divide a tarefa. A árdua tarefa. A árdua tarefa sobre a árida pedra.

A rotina retorna às gaivotas. Porém com os papéis invertidos. Uma estica as penas enquanto a outra cobre o choco. Realmente a democracia sexual entre as gaivotas é maior que entre os humanos. Quem dirá se compararmos com as galinhas.

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