12 agosto 2009

O CASAL

O casal de gaivotas, ontem, estava no maior namoro no entardecer do Itaguaçú. As gaivotas do ninho. Da árida pedra do mar do Itaguaçú.

Hoje uma está no ninho e a outra (o outro?) em outra pedra. Dando um tempo? Esticando as pernas? Afinal, ficar agachado num ninho, talvez já em cima de um ovo durante doze horas por dia, deve deixar os joelhos doendo. Bom, quanto às 12 horas, consideremos que haja democracia sexual entre as gaivotas.

De repente a gaivota que estava no ninho voa. Para a pedra do desejo, onde estavam ontem. O outro esticou os olhos e se interessou. Mas não foi voando na carniça. Não. Jogou-se da pedra na água e foi nadando mansamente. Subiu a pedra caminhando como um cavalheiro e foi namorar.

Executaram um tipo de dança com movimentos rítmicos de pescoço, com as cabeças coladas pelo lado e bicadelas mútuas. Lado a lado. A pedra essa é bem plana, se comparada com as demais e permite uma boa dedicação ao flerte.

O macho subiu nas costas da fêmea. E ficou literalmente de pé sobre as costas da fêmea. Ela o equilibra e ele bate as asas, enquanto abaixa a traseira do corpo se dando a cópula. Se bicam ardentemente, apesar de parecer algo desajeitado para nós com nossas bocas mais, digamos, anatômicas para tal fim.

Em poucos instantes tudo se acaba. Lembremos que se trata de aves, como as galinhas e os patos. Ficam a uma certa distância uma da outra, enquanto se recompõem.

Pouco tempo depois recomeçam a dança. Mais próximas da água desta vez. Em outra pedra um quero-quero observa. Assim como eu, nesta função inusitada de voyeur. Seguem as danças eróticas, pelo menos para as gaivotas há um grande erotismo naquelas danças. E segue o esfrega-esfrega de pescoço e bicadas afetuosas.

Porém, outra gaivota se aproxima do ninho e uma delas, possivelmente o macho, voa em torno da pedra do ninho, espantando o intruso. Pousa na árida pedra indicando ser seu o domínio. Entretanto, o namoro foi postergado. Agora ele está soberano sobre a pedra.

No final do dia, com o sol se escondendo entre as serras, as gaivotas voltam ao ninho. Trabalham um tanto para ajeitá-lo. A fêmea se acomoda e o macho toma sentinela no ponto mais alto da pedra. A árida pedra.

São cinco horas. O sol já lateral ilumina as pedras com uma maior dramaticidade. Os biguás, gaivotas e outros pássaros menos cotados continuam esvoaçando por entre a paisagem. Nosso casal organiza o lar. Ao mesmo tempo em que cuida a presença eventual de invasores. Sempre tem um pescoço erguendo uma cabeça branca.

Até que se acomodam. E este se acomodar mostra o momento da minha retirada. E saio pensando que voam centenas de aves à volta, entre as pedras do Itaguaçú. Tem até nosso casal que confia a ponto de erguer um ninho a cerca de apenas meia centena de metros da praia E os pássaros voam sob o sol sensual da primavera que começa a se mostrar para nós.

E o incrível, o mais incrível disto tudo, é que, ocupado com seus afazeres, os humanos nada vêem disto tudo.

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