08 setembro 2009

COMPANHIA

Em dois níveis as gaivotas estão acompanhadas. Aliás, em diversos, mas no momento me interesso por dois.

No mais próximo há hoje uma parceria na pedra do ninho. A gaivota continua no choco, mas há uma outra ave fora do ninho, sobre a pedra, bem próxima. Uma ave de corpo e cabeça pardos e anel branco no pescoço. Talvez um filhote? Creio que não. Parece ser um martim-pescador. A proporção entre a cabeça e o corpo é diferente da de uma gaivota e parece muito emplumado para ser um filhote recém nascido. Sim, pois ontem passei pelo Itaguaçú e estava só a gaivota no choco. Muito emplumado o pássaro, se bem que hoje não dá para falarmos em pássaros emplumados sem outras conotações.

Chega outra gaivota e a ave voa. Um martim-pescador, sem dúvida. Deu para ver bem o bico e o jeito de voar. Porém, num instante, chega outra gaivota, espantando a primeira. Agora sim chegou a companheira do ninho.

O martim-pescador pousa numa pedra próxima. Afinal, ele só está querendo uns peixinhos. A primeira gaivota voa para longe, estava querendo talvez os ovos. Já a nossa gaivota, após enxotar o intruso, voa para outra pedra, também próxima e fica ali aguardando a troca de turno.

Isto me faz lembrar os tempos de caserna, onde havia troca de turno entre os sentinelas e quando estava se aproximando a hora da troca da guarda, ficávamos no alojamento parados, esperando render os outros. Assim como acontece com estas penosas.

Em outro nível – voltando ao início da crônica, havia dois níveis – outras das bruxas empedradas do Itaguaçú ganham vida em ninhos de gaivotas. As que ficam em terra já têm sua vida em cabeleiras dreads. dos cactos rainha da noite. As que ficam na beira da praia também exibem suas vidas em cabelos ralos de liquens. Entretanto as que estão no mar agora estão a receber os louros de ninhos junto com a dádiva de viver. Nem que seja por algum tempo. Nem que seja até os filhotes alçarem vôo. Porém os ninhos permanecerão até se decomporem pelo tempo, varridos pelo cruel vento sul e sua chuvarada invernal. Ou, pelo contrário, serão habitados por outros animais ou crescerá alguma orquídea, cuja semente foi carregada por uma das gaivotas presa na palha da praia. Na palha da praia que surge trazida pelo mar, vinda dos costões e depositada polidamente na praia. E assim assistimos o poderoso momento das bruxas se envidando. Deixando sua conotação pétrea para ser algo mais. Ser um pequeno ecossistema onde a vida se faz. A vida.

Este orixá que nos faz compartilhar algo com as gaivotas, as árvores, a própria paisagem. Centelhas orgânicas da natureza.

Um comentário:

Anônimo disse...

oi Cícero, Parabéns, adorei teu Blog.