19 setembro 2009

UM BIGUÁ

Nem só de gaivotas vive a Praia do Itaguaçú. Embora invisível para a maioria dos humanos que passa por lá apressada ou desligada, ali no mar acontecem cenas dignas de serem vistas, assim como na beira aparecem pedras dignas de serem exploradas.

Mas vamos ao mar. Um biguá aponta sua cabeça escura no mar. O pescoço longo sustenta o bico erguido. Nele, um peixe insiste em se manter vivo. Raio de prata se movendo vigorosamente.

Ao contrário das gaivotas e outras aves marinhas, o biguá não mergulha do ar para apanhar suas presas. Ele fica boiando, com o bico apontado para cima e os olhos vasculhando a água. Assim que encontra algo que lhe interessa, mergulha da superfície mesmo e nada pelo fundo do mar, buscando seu alimento.

O peixe, coitado do peixe, trava uma luta inglória contra o bico do biguá que lhe parece imenso. Luta, enquanto o pássaro o mantém apenas preso.

Num determinado momento, sentindo as forças do peixe se esvaírem, a ave, em poucos movimentos com o pescoço, direciona o peixe com a cabeça para dentro de sua boca e glup! completa sua refeição.

Depois toma um banho, limpando o corpo com o bico e sacudindo alegremente as penas. Minha vó sempre dizia para não tomar banho de barriga cheia porque eu podia ter uma congestã, como ela falava. Eu nunca tive uma congestã ao tomar banho após uma refeição. Muito menos o biguá. Este, aliás, nem devia ter uma vó lhe dando conselhos. Mergulha. Some no fundo da água atrás de algum outro peixinho.

A cena, já sem o biguá, é dominada por duas traineiras brancas e lentas a cruzar a baía. Seguem em fila quase na linha do horizonte. Cortam a faixa verde do mangue da Ressacada, que separa o mar do céu com suas brancuras. Passam pelos morros do sul da ilha rumo algum futuro cardume para encher as redes.

Nestes mares cada um provê o seu sustento de sua maneira. Para infelicidade geral dos peixes e moluscos.

Nenhum comentário: