25 outubro 2009

A ARIDEZ

Não tem mais ninho na pedra. Voltei de viagem e não tem mais ninho. A pedra está como se ele tivesse sido arrancado, varrido. Uma gaivota na pedra do namoro e outra ave em outra pedra. Mais distantes, biguás tem seus lugares sobre outras pedras e. ao fundo, uma terceira gaivota se banha. Nem sinal do filhote. Ele seria uma gaivota de plumagem ainda parda, algo que conservam até o verão, mesmo já tendo o porte dos adultos. Aos poucos que a plumagem parda vai cedendo lugar à definitiva, preta e branca.

Outras gaivotas aparecem por todos os lados. Mas o ninho foi destruído.

Talvez um humano. Daqueles que passam pela calçada sem nada ver, talvez um humano finalmente visse. Vendo, pegou seu barquinho, remou até a pedra, destruiu o ninho e matou o filhote. Ou talvez o vento sul tenha acordado de mau humor e, mais forte que o filhote e o ninho, tudo varreu para o mar. Ou o gavião aquele que outro dia passou pelos ares, piando ameaçadoramente, não fosse talvez tão pequeno para dar cabo do galeto.

Será que caiu do ninho? E sem o filhote, os próprios pais ou outras gaivotas o destroçaram? Ou o vento, estando o ninho sem os cuidados devidos, o resumiu às suas palhas que foram carregadas?

Na pedra do namoro, agora, estão as duas gaivotas. Pouco depois, uma delas volta para a pedra do ninho, novamente árida e fica agachada onde as palhas estavam.

O frango deve ter morrido. Ou está, como bom adolescente, aproveitando suas novas habilidades, neste caso, aéreas. E o ninho, perdendo a razão de ser, tenha sido degradado, pelos pais ou pelo vendo.

Quem quiser que escolha. A natureza segue seu percurso e, no entanto, nada se fecha no final da história. Apenas começou e terminou com a árida pedra cumprindo sua sina de bruxa empedrada do Itaguaçú. Viveu por algumas luas e voltou à sua aridez. O feitiço do diabo. A mandinga de Anhangá-pitã.

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