29 dezembro 2009

PALITINHOS DE AÇÚCAR

Tudo depende da boa e velha glicose. O C6H12O6. Carbono, hidrogênio e oxigênio montados de tal maneira que formam palitinhos que se juntam em estruturas maiores, desde a pequena e popular sacarose, vulgo açúcar, de apenas duas moléculas, até o amido e a celulose. As plantas possuem uma incrível propriedade de pegar os elementos da água e do ar e, usando sabiamente a energia do sol, nas fabriquetas celulares chamadas cloroplastos, guardam-na com muita eficiência nestas pequenas baterias estáveis.

A partir de uma pequena energia de ativação e do oxigênio do ar, toda esta energia acumulada é liberada, seja como fogo, seja como alimento, o que não deixa de ser a mesma coisa. E assim a energia deste palito é liberada, resultando também nas moléculas constituintes do processo, ou seja, a água e o dióxido de carbono, fechando o ciclo. Coisa que nós, animais, somos exímios em fazer.

Mas nada disto é novo. Aliás, escutei isto tudo proferido pela boca de um alemão meio maluco lá de Porto Alegre, conhecido como Lutz. O engenheiro agrônomo e ecologista de primeira hora José Antônio Lutzenberger.

Na Terra temos muito carbono, o suficiente para transformar o planeta numa imensa estufa, talvez como tenha ocorrido com Venus. Mas este carbono está em grande parte acumulada sob a forma dos palitinhos aqueles, guardado habilmente pelos vegetais. Outra parte deste carbono foi também transformado pelas plantas, acumulado e posteriormente soterrado, vindo a formar hidrocarbonetos devidamente retirados de circulação sob forma de petróleo, gás natural, carvão, xisto. Por outro lado, esta mesma estufa foi a responsável pela manutenção das temperaturas da superfície terrestre praticamente estáveis. Afinal uma variação de -50°C a 50°C é praticamente nada frente as variações de milhões de graus presentes no Universo. E esta estabilidade permitiu o desenvolvimento da vida como a conhecemos.

Se todo este carbono for liberado para a atmosfera, a estufa será ligada. Não significa o final do planeta, nem da vida na sua superfície, mas certamente o fim de uma era geológica e o início de outra, com outras paisagens, outro climas, outros seres vivos. Coisa que talvez só imaginemos em filmes de ficção científica.
Entretanto, o homem está dando aquela energia de ativação necessária para a queima de todos estes palitinhos. Algo como riscar um fósforo num paiol de dinamite, como num desenho animado. Só que em vez de ficar com a cara queimada e saindo fumaça da cauda, o dano será muito maior.

Porém, desde os tempos que dominamos o fogo, sabemos que esta queima libera energia. Interessados nesta energia disponível, estamos queimando mais e mais palitos, buscando mais energia. Recordando-se que a energia pela unidade de tempo é potência e que potência é sinônimo de poder, o homem busca mais poder, dispondo de mais e mais energia.

Entretanto, esta queima libera, como dito antes, o dióxido de carbono e a água. E estes voltam ao ciclo da natureza. E o carbono reforçará, na atmosfera, o chamado efeito estufa, reduzindo as perdas de calor da superfície da Terra para o espaço.

Havendo a indagação de o que fazer para evitarmos este dramático final de uma era, podemos responder que basta manter o carbono guardado naquelas estruturas estáveis que os vegetais aprenderam a fazer.
Se ele não virar gás, se ele não for queimado, não haverá aumento do dióxido de carbono livre na atmosfera e, portanto, a estufa se manterá como está.

A Teoria de Gaia, formulada entre outros pelo próprio Lutz, é extremamente interessante neste sentido. A Terra, como um todo, possui o dom da vida e busca formas de se autorregular.

Assim como Saturno ostenta seus anéis, Júpter suas tempestades, a Terra ostenta a vida. E isto se deve a esta química esquisita do carbono e a ação de moléculas orgânicas mais complexas, como a clorofila, a hemoglobina e o próprio ácido desoxirribonucleico, vulgo ADN ou DNA para os seguidores dos anglicanismos.

Entretanto, o Lutz dizia que este super-organismo é inconsciente. Será? Nós somos, como bem percebido por ele, apenas um tecido deste ser vivo. Um tecido canceroso. Mas isto significa que não está havendo um controle ecológico sobre as ações deste tecido e ele está desequilibrando o planeta. Transformamos a superfície como mega-formigueiros, com grande concentração de energia e, portanto de calor, com impermeabilização do solo e golfadas gigantescas de dióxido de carbono e outros gases no ar que nos cerca. Esta energia toda vem da queima dos hidrocarbonetos. Não estamos apenas tocando o ciclo do carbono da natureza, mas estamos jogando na atmosfera carbono que estavam guardados nas entranhas do planeta há milhões de anos, talvez os restos da sopa inicial da vida.

Precisamos ter em mente que não estamos na Terra, como se ela fosse uma nave e nós os passageiros, mas somos a Terra e a inviabilização dela também nos inviabilizará.

Dezembro de Copenhague//09

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