01 janeiro 2010

A DOENÇA DE DEUS

Perguntaram-me o que é deus. Nestas épocas de mudança de ano, parece que todo mundo fica mais sensível a estas coisas mais assim espirituais ou o que for.

Podemos dizer que deus é o super-organismo do qual, nós organismos, fazemos parte. Nós todos juntos, como num estádio lotado. O mar, o céu, uma montanha, uma lagoa. Estes são deuses. São seres maiores que nós. São super-organismos. Pensamos assim: temos a célula, o tecido, o órgão, o organismo. É só colocar mais um nível: o super-organismo.

É uma floresta, uma geleira ou, mais obviamente, uma colmeia ou um formigueiro. E congregando tudo, tem a própria Terra. A Gaia, do Lutz. Belo nome para a deusa criadora da vida. Mais além há a Lua, o Sol e tantos infinitos outros. Isto é deus.

E nós, super-organismo humano, estamos fora de controle de qualquer coisa pelo menos parecida com equilíbrio. Se alguém viesse do espaço. Uma grande mente viajante espacial sobrevoando a Terra, acharia a parte líquida do planeta linda, com seu verde inteso de vida. A parte gasosa também, com seu azul indelével e com massas brancas a flutuar ao léu. A parte sólida – que incrível, nosso viajante comentaria, os três estados da matéria convivendo num mesmo clima de pressão e temperatura. Que insólito – mas a parte sólida também é linda, com seu veludo verde vivo, de sistemas de aproveitamento a energia do sol. Aproveitamento em vida.

Mas há pontos, veria o viajante, onde há algum tipo de doença. Ali, sobre a pele de veludo do mundo sólido, há umas crostas secas, como cascas de ferida. Onde há febre – sente-se o calor – exala chorume e gases para o resto do planeta, além de devorar o veludo aquele de um modo voraz.

O viajante olharia aquilo tudo. Pensando nele como se tivesse um aspecto humano, ergueria uma sobrancelha e pensaria que este deus está doente.

Fim de 2009

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