16 janeiro 2010

HAITI, HAITI, HAITI

“Tá fazendo na cozinha, tá cheirando aqui”. Era o bordão do Café Haiti. Tinha uma confeitaria deles lá na Praça do Capitólio, numa Porto Alegre que eu quase não reconheço mais quando visito. Lembro até hoje de umas rosquinhas que tinham lá. Eu comia tomando um Guraná Caçula, que vinha numa garrafa pequena. Era o Guaraná Champagne Antártica.

Mas o que me move é outro Haiti. Um que eu acabei de conhecer, na passagem do século XVI para o XVII, pelas mãos da Isabel Allende no seu “La Isla Bajo el Mar”. Li todo, acompanhando o vestibular da minha filha. Terminei de ler e à noite soube do terremoto na ilha. Depois leio que o Cônsul do Haiti em S. Paulo diz que isto é devido à macumba! Mais especificamente ele disse: "Acho que de, tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo... O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano lá tá fodido". M. George Samuel Antoine, o nome do senhor esse. É branco. Talvez ainda carregue o mesmo ódio que os grand blancs nutriam por seus escravos e sua superstição chamada Vudu. Maldição de quem? Do deus dos grandes brancos, o único deus verdadeiro? Parece que o Monsieur saiu das páginas que eu estava lendo.

Ou será que em vez de ser uma ilha maldita é um país que cresceu baseado no ódio e na corrupção? O país de um povo eternamente aplastado pelo analfabetismo.

Os escravos sublevados massacraram os brancos naquela época. Vingança contra quem os massacrou por gerações. Mas, logo depois, já no poder, os mais poderosos vendiam seus inimigos como escravos para piratas que os revendiam em outras colônias do Novo Mundo. Um país que esfacelou pelo ódio e pela corrupção. Uma grande favela miserável. Um país que, sujeito a furacões e terremotos, não suportou este desastre num momento em que toda a estrutura pública do país está totalmente destroçada.

Não é maldição do deus branco este. Não é obra do Vudu e seus loas, que são orixás e não demônios. O demônio este que deve ser culpado por toda a situação é o próprio homem. Sua intolerância, vileza e crueldade. E isto independe da cor da pele, da estatura, do comprimento dos cabelos ou qualquer outro parâmetro físico.

Aos haitianos resta rezar. E eles rezam cantando para os seus loas. Quanto a nós cabe ajudar, se não por meios físicos ou financeiros, cantando para nossos orixás ou para os seus deuses, sejam eles únicos ou não.

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