16 maio 2010

A ESPERA

Não tem vento nem sol. O céu fechado também não prenuncia a chuva. O mar, exceto por uma leve brisa vinda do sul, parece quase um espelho, onde as pedras - as áridas pedras - se refletem femininas. Se miram e se banham as bruxas do Itaguaçú.
As gaivotas reinam neste dia lento de outono. Algumas sobre as pedras e outras na água não fazem nada. Um casal destas aves faz acrobacias num vôo sincronizado rente à água, à areia, às pedras. Somem para oeste, onde um bando de trinta-réis descansam sobre uma pedra e uma dupla de pescadores tarrafeiam num caíque.
Tudo se passando muito lento, como se a tarde cinza segurasse os ponteiros do relógio de Saturno, acorrentando o tempo.
Todos esperam sem pressa. Esperam que o tempo passe. Esperam que o vento mude. Esperam na praia. Esperam nos barcos. Esperam cosendo as redes. Esperam lubrificando as máquinas. Esperam nos botecos. Esperam tomando pinga. Esperam jogando dominó.
Todos esperam que o tempo arraste suas correntes e que o vento mude. Esperam que o vento trague lá do sul as flechas de prata e de vida que encherão as redes, que moverão os braços, que pesarão nos barcos, que forçarão as máquinas.
Esperam as tainhas que abrirão o dia, que esquentarão o sol, que romperão as cadeias do tempo.

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