02 maio 2010

ORGULHO NACIONAL

Andando por Buenos Aires, há alguns dias, vi um posto Petrobras. Assim, sem o acento no “brás” mesmo. Mas, apesar do sumiço do acento obrigatório nas palavras com a última sílaba tônica, conforme o vernáculo, não se lê “petrôbras”, não. A justificativa foi a internacionalização da marca, já que em diversos países a acentuação é desconhecida. Justificativa que a Telefónica não compartilha, pois mantém o seu acento espanhol em qualquer país. E parece até que se orgulha disto.

Que seja, não é sobre isto que quero falar. Embora seja sobre orgulho. E sobre aquele posto em Buenos Aires com o “BR” em verde e amarelo. Poderia eu, ali mesmo, inflar meu peito com orgulho patriótico. Afinal, a Petrobras, independente dos acentos, é uma das cem marcas com mais valor no mundo inteiro. E continua genuinamente brasileira, remetendo-nos todos ao episódio do “petróleo é nosso” e outras afirmações da identidade nacional.

Mas o que me veio à mente, em vez de bandeiras brasileiras flamulando nos céus do planeta, foi uma propaganda que está sendo veiculada na televisão. Nela, um cachorrinho olha pela vitrine de uma pet-shop (eba, orgulho nacional) onde ele está exposto para venda. O close nos olhinhos pidões, quando ele vê uma pessoa passar, são tão enfáticos como a acentuação no nosso léxico. Expressam o desejo de pertencer àquela pessoa, uma jovem e bela mulher que passa distraída na rua.

Ela segue seu caminho, mas seus olhos, fixam-se em um homem, também jovem e bem apessoado, claro. O close, enfatizando seu olhar, repete o do cão. E, da mesma maneira, o homem não retribui, pois seus olhos pidões chegam até um carro na outra vitrine. O close nos olhos marca a cena.

Como se pode ter orgulho? Nada mais machista que esta propaganda da Petrobras. Algo que até poderia gerar uma interpelação do Conar, do Ministério Público e mesmo de qualquer mulher que se sinta ofendida em ser comparada com um cachorro em seus desejos, acentuados nesta peça publicitária.

Mas foram atingidos seus objetivos, pois esta propaganda me veio à cabeça em Buenos Aires, antes de qualquer rasgo patriótico. Realmente, a agência conseguiu explorar muito boa esta ligação sutil entre os desejos de um cão, uma mulher, um homem e um carro, embora seja difícil sentir orgulho de uma empresa que permite a veiculação de sua marca numa propaganda com esta conotação. Mesmo sendo uma das cem maiores marcas do mundo.

Nenhum comentário: